Eu deveria ter deixado você ir

Eu deveria ter deixado você ir no primeiro sinal de afastamento que você me deu. Mas quem é que quer ver alguma coisa negativa quando se está apaixonado? Eu não queria. E no fundo, eu acho que você também não queria, porque no final do dia, da semana… você sempre voltava e eu estava cheia de saudades para enumerar as queixas todas de você. 

Tínhamos sempre tantas coisas para contar. Tantas coisas para reviver um com o outro, e talvez, estar junto de alguém com quem nos identificamos, é ter com quem reviver as nossas individualidades, as ideias malucas que temos de madrugada, os dejavus que assistimos em hd debaixo do chuveiro, os planos que desenhamos na janela do ônibus lotado no caminho para o trabalho. 

Foi você (e só você) quem eu levei para conhecer os meus cômodos secretos.

Gostar de alguém ao ponto de se mostrar totalmente exige coragem, sobretudo, exige humildade e vulnerabilidade. Entendi o quão medrosa eu era quando você chegou por aqui. Amigo. Parceiro. Amor. Também percebi-me crescendo, endurecendo/amolecendo a cada porta que eu te abria e você estava ali, não julgando ou condenando, mas me abraçando cada vez mais forte, tornando-se cada vez mais presente. Talvez, para conhecer alguém de verdade é preciso saber abraçar antes de qualquer coisa.

Contigo, eu estive inteira. 

E não estou dizendo que você me completava. Não! O que eu quero dizer, é que contigo eu podia estar inteira de mim. E que sorte a minha! Talvez, seja o segredo para os amores de verão atravessarem outras estações: poder estar/ser inteiro na presença do outro.  Não quer dizer que fomos perfeitos e infalíveis do começo ao fim e nem no começo e nem no fim, quer dizer que fomos exatamente o oposto disso e por isso, éramos tão reais um para o outro.

Por: Francielle Santos

(Foto: Reprodução / antonovakseniya)