ela não é quem dizem que ela é

Há quem olhe para ela e acredite fielmente que sabe quem ela de fato é.
Há quem afirme ser capaz de reconhecer o que ela sente.
Há quem jura saber onde, porquê ou em quem ela vibra.

Ingênuos!
Soberbos!
Tolos!

Ela não é quem dizem que ela é.
Nunca foi. Mesmo quando fora obrigada a se vestir por uma pele que não era a dela. E ela vestiu. Apertada. Pinicando. Coçando. Sufocando. Subiu no salto das expectativas deles e fez o que tinha que fazer. Pois quando se afirma muito sobre quem você é, e tentam te convencer que você é quem eles dizem – chega um momento que você recua, aceita e até, superficialmente, acredita neles.

Ela por muito tempo se convenceu e convenceu à todos ao seu redor. Fez de conta. Encenou todos os dias como se fosse o último dia, da última peça da Broadway no Teatro Municipal de São Paulo. E ela era impecável. No palco, ao seus pés, só flores lançadas. Na platéia somente sorrisos, a tal da satisfação nos olhares e palmas, palmas, palmas…

Contudo, ela sequer acreditava na metade das afirmações e negações que empurraram garganta abaixo. E por vezes, ela quiz vomitar tudo pra fora, mas engoliu a seco. Como se assim, com o tempo, as tais substâncias causasse algum tipo de mutação no DNA.

Acontece que o tempo passa e você não deixa de ser quem você realmente é lá dentro. Não há culpa. Não há punição. Não há expectativa alheia. Não há medo de decepcionar. Não há frustração. Não há vergonha. Não há absolutamente nada que transforme a sua essência.

Ela era quem era. E quem ela era, mais cedo ou mais tarde, magoasse quem magoasse (inclusive o seu próprio espelho manipulado) romperia o gesso de tudo aquilo que nunca coube, nunca serviu, nunca foi seu.

Só então os pedaços de porcelana cairiam por terra.
Pedaços de porcelana do corpo que sempre foi de pano.

Por: Francielle Santos

(Foto: Behance)

me acompanhe também no Instagram @reescrevome