Encontros

Acontece sempre. Em dias diferentes. Ás vezes, bem cedinho quando o sol ainda está dizendo olá e eu passo o protetor no rosto antes de sair pra correr e distraída em meus pensamentos, te sinto ao meu lado. Ás vezes, quando saio e atravesso Copacabana do trabalho até minha casa. Passo por você e penso em parar, só para dizer o quanto sinto sua falta. E outras tantas, assim sem hora marcada, em um mercado qualquer que entro para comprar aquele café que você dizia que eu bebia demais e também, aquela tapioca e o requeijão que você aprendeu a fazer do jeito perfeito, só para eu comer no nosso sofá, deitada no seu peito que eu chamava de meu travesseiro, enquanto a gente assistia um filme só para passar o tempo.

Eu te encontro na fila do banco, enquanto eu reviro os meus papeis amassados dentro da carteira e lembro como você nos mantinha organizados mesmo quando estávamos uma bagunça. Eu te encontro quando coloco os meus patins e penso em dar uma volta e te vejo na minha frente, sorrindo, dizendo que não me deixaria cair. Eu te encontro quando caminho por ai solitária e a distância, vejo alguém de costas que tem a sua altura, a cor da sua pele e eu sinto uma certeza ingênua de que é você. Ás vezes, é alguém que vem andando em minha direção e inevitavelmente, o meu rosto sorri esperando aquele seu sorriso doce de volta.

Não faz muito tempo que eu te encontrei de novo. Alguém fitou os olhos e percebi estar sendo olhada de forma diferente. Fixei os olhos em resposta. Fisicamente ele parecia você: ato, forte, loiro, aqueles olhos cor de mar como os teus que me encantavam, barba bem feita parecida com a tua, as mãos grandes, os músculos visivelmente bem cuidados, mas nada além do que o formas. Parecia querer dizer-me algo como você tantas vezes não conseguia dizer em palavras o que estava sentindo e somente me abraçava forte. Ele também sorria com os olhos, não pude deixar de notar! Como os teus olhos sorriam sempre que me via enrolada na toalha dentro daquele nosso banheiro, enquanto eu desembaraçava o meu cabelo cantarolando aquela nossa canção do Ed Sheeran “I found a love for me. Darling, just dive right in and follow my lead…”

Desviei o olhar, voltei a encara-lo e aqueles olhos permaneciam presos em mim, como você fazia quando eu lhe contava as minhas histórias nos nossos domingos de manhã, acordávamos cheios de preguiça e nos permitíamos ficar na cama mais um pouco . Procurei nele os teus detalhes, como aquelas ruguinhas que teu rosto faz perto dos teus olhos quando sorrir e o rosado que aparece no seu tom de pele quando se sentia envergonhado e não encontrei, é claro! Pensei: “talvez, ele espere ali fora e me segure pelo braço para me chamar atenção” como você fez, naquele dia em que nos conhecemos. Uma noite incerta, naquela festa que até hoje não descobrimos se quer por que fomos. Só estávamos lá. Passei por ti distraída e você que me percebia aproximar não hesitou segurar o meu braço, já que no meio daquele barulho todo, se quer pude ouvi-lo. Ele por sua vez, me esperou lá fora, perguntou o meu nome sem jeito, pediu o meu telefone dizendo aquelas palavras clichês para me convencer.

Eu não nego que digitei o meu número no celular dele, como fiz com o seu naquela manhã quando saímos daquela festas e estávamos a nos despedir. Marcamos um jantar. Jantamos pizza, como eu e você costumávamos fazer nas noites de sábado. Saímos outras vezes. Conversamos sobre um monte de coisa da vida. Conversamos inclusive sobre você. Sorrimos. Descobrimo-nos. Tentamos nos entender. Por vezes, enquanto ele sorria, eu sorria de volta para você. Outras vezes, quando ele tentava entrelaçar os nossos dedos e as nossas mãos se encaixavam, eu até acreditava que eram as tuas mãos que seguravam ainda as minhas.

No fim, eu me entreguei. Como fiz com você naquela nossa primeira viagem, um mês depois que tínhamos nos conhecido. A gente se dava tão bem como eu e você nos dávamos bem. E eu tentei seguir em frente com esse romance.
Tentei não lembrar o teu nome. Tentei não procurar as tuas marcas de nascença no corpo dele.
Tentei não vê o brilho dos teus olhos, no brilho dos olhos dele.
Tentei não procurar o seu jeito de fazer a barba, quando ele fazia a barba todo sério na frente do espelho.
Tentei não comparar a temperatura do seu peito, quando eu repousava a minha cabeça sobre o peito dele.
Tentei não desejar o teu modo de fazer amor, quando eu e ele fazíamos amor.  
Por que ele, simplesmente, não era você. Por mais parecido que fosse, ele não podia ser você. Assim como todos os outros, que por vezes encontrei, tentando te encontrar. Uma teimosia ridícula, tentando te viver fora de mim, tal como te revivia, incansavelmente, todos os dias dentro de mim. E não vá pensar que eu ficava bem com isso, porque eu sabia que não era justo com ele e também, era injusto comigo.

Eu só demorei a aceitar, que no fim, tudo o que eu realmente queria era te reencontrar em você.

Por: Francielle Santos

(Foto: Wattpad )

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