eu me perdi

Tenho pensado muito neles, aqueles autores que foram e continuam sendo atemporais, que escreveram coisas que ainda fazem sentido, que são capazes de explicar outras coisas que eles sequer viram, conheceram. Tenho pensado sobre essa vontade de escrever coisas que sejam como tais. Talvez eu nunca tenha me dado conta do quão ambiciosa e pretenciosa eu sempre tenha sido.

Se a menina que eu fui um dia lesse essas palavras não me reconheceria, porque ela dizia que não precisava ser ambiciosa para ser feliz. Ela, que dizia que bastaria uma sala de aula, alunos, giz e uma lousa, uma casa no bairro vizinho a dos seus pais, um marido integro e trabalhador, filhos, almoço de domingo e o seu povo todo reunido naquelas mesas retangulares de madeira antiga no quintal. E não, isso não é uma descrição do comercial de margarina dos anos 2000, poderia ser, talvez fosse por eles a precisão dos detalhes.

Quase ouço ela me dizer que está decepcionada. E não tiro a sua razão. Mal sei dizer quando foi que eu peguei aquela pequena lista escrita a lápis em folha do caderno da escola e transformei em planilhas longas de Excel com prazos absurdos! Como justificar ter deixado tudo o que é virtual engolir tudo o que era sólido? Não sei. Não sei.

As minhas justificativas não amenizam nada. Eu me perdi. Eu preciso escrever que me perdi para ver se me encontro, se encontro palavras que ocupem as lacunas do que era pequeno e bom e que eu afirmo que esqueci. Escrever para tentar desacelerar e ter um pouco, um pouquinho só de mais calma com os dias, com a vida, com as coisas que não aconteceram porque não eram para ser e seguir. Seguir, relembrar, reescrever, começar, outra vez!

Por: Francielle Santos

(Foto: Not Just a Label)

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