Você está aqui.
Ainda está aqui como se nunca tivesse deixado de estar. Pessoas entram e saem. Algumas tentam ficar. Outras convencem-me à ir pra fora. Às vezes eu vou. Os dias são o que são e a vida é o que acontece quando eu vou. Eu aconteço. Eu vivo. Eu sinto. E volto. Volto para casa. Para a casa que você ainda enfeita as paredes pelos porta-retratos da minha memória. Volto para o quarto onde despias as minhas vergonhas, trazia a tona as minhas fantasias, onde fui inteira.
Você ainda é o que sempre foi em mim, porque és o que eu acredito. É o que mantém o meu coração pulsando, os meus olhos fixos no horizonte, os meus pés firmes num caminho rumo à felicidade. Isto que és, é o amor que nunca me deixou sozinha. O amor que me cura. O amor do qual pouco escrevo, pouco confesso, porque se não pra você, a quem interessaria?
Você está aqui.
Ainda que navegando um sonho antigo, remoto, quase impossível. Você está aqui, mesmo que está não seja a nossa realidade. Que esse tempo não seja o nosso, não seja para nós.
Busco as chamas que reascendam as tuas chamas em mim, que sejam capazes de te trazer para perto, mas nada me queima. Não há nesse mundo um calor como o teu, um toque como o teu, uma presença como a tua. Há o silêncio.
Você está aqui.
Ainda que todos os silêncios habitem-me. Nenhum nota ecoa som nas linhas das minhas partituras. Nenhum lugar no mundo haveria de ser mais seguro. Nenhum abraço poderia ser o mais certo. Silencio as minhas preces. Silencio os meus desejos. Silencio as minhas saudades todas. E sigo. É preciso seguir por ruas barulhentas, quando as suas ruas estão quietas. É preciso seguir para viver. E eu vivo, mesmo você sendo a ausência que amordaça a minha vida no mundo que habito.
Por: Francielle Santos
(Foto: etsy)
reescrevo 