
Passei muito tempo da minha vida tentando descobrir o meu lugar no mundo. Houve dias que me senti uma estrangeira nesse planeta, nessa geração. A ansiedade me tomava e me paralisava no meio das avenidas como se eu não pudesse reconhecer as histórias que se construíam a minha volta como os edifícios imensos do novo centro comercial de São Paulo, tão pouco acompanhar as conexões que eram feitas no contexto que eu estava aparentemente inserida.
Meu tio (que é como um pai pra mim) me questionou diversas vezes: “mas Fran, você não tem vontade de ser uma diretora em uma dessas grandes empresas ou bancos?” e eu entendia a referência, a lógica e sem sombra de dúvidas, a preocupação que ele tinha (e ainda tem) por mim. Lembro, quando eu cheguei em casa e contei ao meu pai que não tinha optado por Design de Interiores, esse era o passo inicial para a futura carreira em Arquitetura e todo mundo admira essa carreira. Quando ele ouviu que eu tinha escolhido eventos, o olhar dele congelou e ele da maneira mais espontânea e assustada possível, perguntou: “mas você vai estudar na faculdade para encher balões?” e mesmo frustrada com a aparente decepção dele, eu também entendia a objeção nas entrelinhas daquela frase.
Não que eu tivesse certeza do futuro. Nem lá trás quando eu ainda estava no primeiro ano de faculdade, nem agora, quando estou mudando completamente o rumo da minha vida pessoal e consequentemente, profissional. Ainda assim, eu tinha, como ainda tenho, aquela certeza de onde eu não queria estar. E é sobre isso, na maior parte do tempo somos tendenciosos desde muito novos a saber o que não gostamos/queremos, às vezes, até sem provar. Vejo isso no meu afilhado de seis anos, ele olha uma verdura e sem nunca ter provado, ele já sabe em algum lugar dentro dele, que ele não gosta ou não quer, pelo menos, não por hora!
E é curioso reconhecer nas minhas escolhas, que pareciam tão tortas e até mesmo, irresponsáveis para a persona que todos tinham de quem eu era, e notar que tudo não passou de uma construção, para que hoje eu tivesse ainda mais certeza de onde não quero estar e principalmente, para onde eu quero ir. E digo mais, para ter a certeza do que eu quero construir!
Não foi de repente que as respostas todas chegaram. Aliás, ainda faltam um monte de pecinhas para montar esse quebra cabeça. Contudo, pela primeira vez, na minha vida inteira, eu me sinto pertencente a esse tempo, a esse mundo, ao contexto que me cerca. Talvez, eu finalmente tenha ancorado, depois de tanto tempo flutuando em oceanos longínquos na incansável busca de encontrar um lugar que eu pudesse chamar de meu, em que eu pudesse ser verdadeiramente eu.
E hoje me sinto em casa. Estou finalmente aqui, dentro desse corpo, com os pés fincados nessa terra, sentindo o meu coração pulsando no ritmo desse tempo, e as ideias – cada uma delas – tomando forma de tijolos, ferro, alicerce… e compondo a construção do meu(nosso) império.
Nosso, porque também tenho aprendido a dividir a jornada. E esse é de tudo, um dos aprendizados diários mais valiosos que tenho apreciado. Aos meus amigos e parceiros, que o nosso futuro seja belo, grande e inspirador!
Por: Francielle Santos
(Foto: 𝐋𝐢𝐟𝐞𝐥𝐢𝐠𝐡𝐭)