
Eu vi todos eles sumirem dos meus dias, gradativamente, um a um. Eu não notei que estava os esquecendo – sobrenomes, gostos, traços, cores, presença. Quando dei por conta, já estávamos cruzando na rua do bairro que crescemos e não nos reconhecendo mais, ou reconhecendo, mas não nos comunicando uns com os outros – nenhuma palavra, nenhum sorriso, nenhum aceno de cabeça.
Houve um tempo (curto) que, quando no mercado ou na padaria do bairro, alguns deles estavam muito perto e a gente se reconhecia de algum modo e não se cumprimentava, eu me condenava. Eu dizia dentro de mim: “foi você quem escolheu partir e não deixar rastros”. E é verdade. Eu sumi primeiro. Eu quis sumir e não carregar essa bagagem emocional. Carreguei outras, bem menos necessárias, eu reconheço. E talvez, se eu voltasse atrás e soubesse que um dia eu iria sentir essa falta, eu me alertaria.
Todavia, agora é tarde!
Tarde demais para querer rever amigos que não existem mais. Tarde demais para atualizá-los com o número de telefone, antes de trocar o chip no celular. Tarde demais para rever a minha lista de endereços e enviar os cartões postais de onde estive para as pessoas certas. Tarde demais para querer colher frutos de uma árvore que eu mesma não reguei.
Mesmo assim, deixo aqui o registro dessa caixa vazia, da qual sinto saudades das presenças. Saudades dos meus amigos da infância e da forma leve que a vida tinha com a alegria de todos eles ao meu redor.
Por: Francielle Santos
(Foto: Ghastly Delights)