
te reencontro no meus escritos, mas não te procuro mais. te procurar, seria reconhecer que eu estava errada sobre mim, sobre nós, sobre tudo. reconhecer que eu talvez amasse mesmo você. reconhecer que eu acreditava mesmo no seu amor. reconhecer que ao dizer adeus, estava implorando: salva-me de mim!
dizem por aí, que os escritores existem para dar voz ao que é indizível. você ainda é o clamor agudo e indizível ecoando no meu peito. que ainda dói. que ainda sangra. que ainda deseja te sentir e que ainda quer acreditar que, nada não passou de um terrível engano. que ainda torce por uma daquelas viradas clichês, como no último capítulo de uma novela.
te reencontro nos meus escritos e me critico e me abraço e desejo, profundamente, o calor dos teus braços e a paz do teu peito. te ouço nas palavras que outrora eram só minhas e agora, são também do mundo. palavras que te denunciam. palavras que me despem dessa armadura com a qual caminho pelas ruas. as mesmas palavras que já não justificam nada. há sempre muitas outras palavras, sons, toques, calor. ainda assim, há o teu silêncio, a tua ausência, o frio da tua indiferença.
você não está onde eu estou. você não é mais quem eu sou. você não vive mais em mim. mas continua sobrevivendo no meio daquilo que aspiro escrever. você ainda é a dor que lateja nos meus cadernos. você ainda é a tinta que escreve nas linhas dos meus papéis. e todo resto, me vê, mas não me lê. não tenho interesse de que outros me vejam como você viu; toque onde você tocou; atravesse comigo o que atravessamos. e é aqui, neste exato ponto, que a solidão petrifica o que me restou. e eu, nossa, eu sinto uma puta saudade … sinto saudades da certeza que eu tinha sobre o “nós”.
te reencontro nos meus escritos, porque você ainda é a uma das minhas verdades. e eu ainda anseio sentir algo que me faça incendiar de dentro pra fora (outra vez).
Por: Francielle Santos