meia-noite
primeiro de janeiro
de dois mil e dois e contanto
contando
contando
ainda ontem estávamos na praia
pezinhos enfiados na areia
eu e meu irmão no meio da multidão de adultos
erámos tão mais tão felizes, mesmo que não entendêssemos nada.
então o céu iluminado – branco, azul, verde, vermelho e dourado
e banho de espumante barato
abraços longos e apertados
lágrimas, risos, beijos molhados e demorados
onze e cinquenta e nove
trinta e um de dezembro
de dois mil e vinte e um e contanto
contando
contando
luzes apagadas, vinho barato e a tv ligada
cigarros queimados
na tela a contagem regressiva
as praias este ano já não estão cheias como outrora
ainda sentimos as consequências da pandemia
cinco, quatro, três, dois, um
meia noite
primeiro de janeiro
de dois mil e vinte e dois e contanto
contando
contando
gargalhadas altas atravessando as paredes das casas dos vizinhos
nenhuma lágrima, nenhum abraço, nenhum beijo molhado e demorado
meia noite e um
meia noite e dois
meia noite e três e contando
o tique-taque do relógio não para
não vai esperar que se levante mais forte
mais vívida e iluminada
tão pouco com mais ânimo, mais certezas
aliás, não há certezas, nunca houve
são só as horas passando,
dias, semanas, meses, mais um ano chegando!
Por: Francielle Santos